O último velório e enterro que eu me lembro bem foi o de vovó. Uma senhora de pele ávida e cabelos pretos com fios brancos, descansando em seu caixão também branco. Ao passo que tão fria, tão quente e viva em minhas memórias.
Lembro também do velório de um grande amigo de escola, tão jovem e alegre. Se foi pra nunca mais.
Velórios me tiram a frieza que os dias pedem. Ver a mãe que chora um filho ou os filhos que choram a partida de um pai me causa tão intenso sofrimento que até parece que ali se vela um dos meus.
Amo de forma tão genuína, ainda que reprimida, sofro de igual modo, genuinamente, sem que ninguém saiba. Expor as fraquezas me gera um amontoado de inseguranças e abre espaço para fragilidade. Talvez devesse ser mais transparente, mas tenho medo de afastar as pessoas, tenho medo de perder meu amor genuíno pelos desconhecidos do meu caminho.
Mas um bebê, uma pequena bebê ali, dormindo seu sono eterno em uma pequena caixa rosa cheia de flores me apavora. Sou tomada por tantos porquês que mal consigo acreditar na cena que vejo. Tantos anos sem a tristeza de uma partida que agora preciso lidar com uma partida esperada, mas desoladora. A mãe, minha prima, não reage, não parece estar ali. Um pedaço seu se foi, a alma também. Só respira.
O pai olha atento a filha. Parece querer gravar na memória, ainda que pela última vez o semblante da menina que apenas dorme, eternamente.
A família aceita. Deus levou. Deus sabe o que faz. Nada trará de volta. Sofremos e seguimos a viver. A vida não para, por enquanto ainda não. Enquanto isso, enquanto se vive, sonhamos na possibilidade de um reencontro no amanhã. No reencontro com os que amamos e partem.
Despedidas doem. O Adeus para alguém que nunca mais irá se ver não há descrição, muito menos remédio que cure. Parte dolorosa dessa vida.
Até breve, pequena Maria.